Lacunas, é uma serie de ilustração que partiu de um desejo enquanto artista, de ampliar o que cada individuo entende por ser o amor. Em todo meu percurso artistico, sempre mostrei minhas angustias, minhas perdas, e de como isso motivou para a construção do meu processo enquanto retratista. Minhas experiências afetivas desde muito cedo tiveram o poder de me influenciar no meu crescimento emotivo, criando de forma orgânica o que considero ser a minha arte. Partindo disso, senti a necessidade de expândiar essa fala tão universal que é o amor.
Nessa serie em construção cada pessoa convidada tem a oportunidade de dar um depoimento contando de suas experiências amorosas; das suas perdas, dos seus ganhos, de como esse sentimento foi e é capaz de ensinar cada um de forma unica. Lacunas, vem com o intuito de poder inspirar pessoas a compartilharem suas histórias, de forma simples e leve.
Amar transforma.
JUNIOR RIBEIRO.
“Pra mim é muito difícil falar de amor, pois sempre que falo de amor acabo falando de algumas ausências e quando essas ausências se relacionam direto com algo genuíno, como é o amor, os machucados são inevitáveis. Costumo acreditar que o amor é algo delicado demais para ser definido e dificilmente encontrarei palavras para traduzi-lo.
Desde muito pequeno eu precisei aprender a lidar com algumas ausências, ausências essas que nem eram claras pra mim. Não sabia direito o que era, mas sabia que faltava algo. Com o tempo, fui percebendo que o vazio deixado por essas ausências falavam muito sobre minha relação com pai e isso me incomodou muito durante um bom tempo. Hoje eu vejo o reflexo desse vazio em praticamente todos os meus relacionamentos, pois desde muito jovem aprendi que o amor é o sentimento mais genuíno que alguém pode sentir.
Sempre me apaixonei e me relacionei com muita intensidade, porém nunca me senti compreendido e na maioria das vezes me via como excesso. Foi difícil entender que o Jeito de me relacionar não se tratava de excessos, mas sim de uma verdade que era e sempre foi minha. Eu conheci o amor da a forma mais difícil, foi diante de algumas lacunas que entendi a importância da verdade quando se trata de algo tão delicado e forte ao mesmo tempo. Talvez por isso eu sempre intensifiquei a minha forma de amar e com o tempo parei de me punir por isso. Aprendi que o amor caminha junto da verdade e entendi que não poderia ser diferente. Hoje mais do que nunca, vivo as mais doces verdades desse sentimento e sou muito feliz por ser intensamente correspondido.
Foi diante de algumas ausências que percebi que não há vazio algum que o amor não possa preencher.”
RHAIFFE ORTIZ
“Eu sempre me entreguei demais, arrisco dizer até que sempre dei mais do que recebi.
Amor pra mim sempre foi intenso, avassalador, aqueles que o coração chega a doer. Apesar dos ‘acidentes de percurso’, não me sinto desmotivado a amar de novo, prefiro acreditar que tudo que vivi até aqui me moldou, fez de mim um cara melhor, mais forte, mais firme. Por mais clichê que isso possa parecer, amor é o sentimento mais bonito que existe, isso é um fato incontestável. Amor transforma qualquer coisa em qualquer outra coisa mais bonita, amor fortalece, te motiva, te faz acordar todos os dias feliz em saber que alguém no mundo tem sua melhor parte, seu melhor sentimento, seus melhores desejos. Mas amor é jogar de olhos vendados, onde a única coisa na qual se pode acreditar é no que você tem dentro de você mesmo e o grande desafio está exatamente aí: amar sem a certeza de que o que você recebe (se recebe) de volta é igual ao que você doa.
É difícil? É! Mas não tem outro caminho.”
GABRIEL RODRIGUES
“DE REPENTE a cidade era grande e havia, vez em quando, ruídos do lado de fora, os quais passavam despercebidos ao ouvido, à medida que meu sorriso se abria quase que por inteiro, demonstrando algum sentimento desses que sentem as pessoas apaixonadas. me pegava preso ao acaso, que me deixou assim (adv. 1. deste/daquele/desse modo), não mais que de repente. e de repente… me via preso de novo e de novo e de novo e de novo.’
GEELHERME VIEIRA
“Agora eu estou nadando para longe desse profundo azul escuro. Eu amo você, mas quero me amar também. Vou atravessar o oceano e descobrir o que tem do outro lado.
Até logo,
te amo. ”
ADRIANO DE MORAES
“Certa vez eu amei alguém e foi algo tão intenso que fui tomado de puro êxtase e alegria. Parecia que a qualquer momento eu iria lançar vôo. Simultaneamente a isso eu vivia questões relacionada a minha sexualidade que até então eu nunca havia deixado vir a tona. Sei que de algum modo as duas coisas estavam relacionadas, porém o medo esbarrava na minha coragem por acreditar que as questões da minha sexualidade poriam em risco o afeto dos meus outros amores.
Eu nunca gostei do termo assumir. Então escrevi ao meus pais uma carta contando da pessoa que eu me relacionava e da minha necessidade de compartilhamento para com aqueles que eu amava. Eu só queria que meus pais pudessem compartilhar do relacionamento ao qual eu me propusesse, seja qual fosse ele. Era também com eles que eu queria dividir da minha felicidade. E a carta foi entregue. O relacionamento, porém não foi adiante.
Até hoje não tenho acesso ao que essa pessoa é de fato, só ao que foi à mim. A verdade foi que eu me apaixonei pelo que eu inventei dele. Apesar dele existir em carne osso, o silêncio e ausência que eram marcante só me serviram como espaço de elaboração de um outro. E foi de algo inventado que fiz e faço minha realidade. E foi a parte inventada que morreu naquele dia que terminamos.
O que doeu também foi da ordem do egoísmo muito mais do que da mentira. É que muito o que me dava asas era de algo nele projetado muito mais do que ele em si. No fundo sempre é um pouco inventado, não por ele ser mentiroso. É que a mentira também falava das minhas ilusões. Prova disso foi o sentido de luto que dei ao termino. A dimensão viria acrescida aos vários sentidos no qual aquele relacionamento foi implicado.
Outros amores vieram posteriormente e com eles outros sentidos. Atualmente vivo algo que a mim é extremamente caro. E se naquele primeiro relacionamento eu me fixei em algo do que eu criei, hoje é pela procura por esse outro que por algum momento eu esqueci. Eu acredito que hoje estou muito mais junto de quem eu amo. E também muito mais acompanhado.”
RILBERT ANDRADE
Um dia ele apareceu e durante muito tempo foi só ele.
Quando eu tinha oito anos eu amei pela primeira vez. Eu escrevia cartas e gostava de dar presentes. Eu amo até hoje. Na adolescência eu me apaixonava a cada ano. No primeiro dia de aula eu corria os olhos em cada cadeira daquela na tentativa de amar de novo. Acontecia sempre, mas eu já havia trocado as cartas e os presentes por indiferença e desejo. Amar em silêncio dói. Durante muito tempo eu fugi das pessoas como quem foge dos carboidratos. Dieta pra quem? O fim do colegial me trouxe incertezas, crises de existência e um novo amor. Quando eu dizia que era pra sempre não tava mentindo. Eu amo até hoje. Aos vinte e um eu me apaixonei novamente. Foi uma vida acariciando aqueles cachos escuros e os beijos mais demorados que eu já tive. Eu dizia pra ele que era pra sempre e eu não tava mentindo. Eu o amo até hoje.
Ontem eu me apaixonei de novo.